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MISANDRINHAS

Era uma vez um homem muito tolo cuja primeira esposa havia morrido logo após o nascimento de sua primeira filha, Simone. Sentindo-se solitário e apreensivo pela responsabilidade que sua esposa lhe deixara, o homem decidira casar-se novamente com uma mulher, viúva, chamada Nísia, que tinha duas filhas, para assim “poder dar uma mãe a sua filha”, o que na verdade mascarava um ardiloso desejo, que era o de poder fugir das tarefas do lar. Machonildo casou-se quando Simone tinha apenas onze anos. Sua nova esposa era uma mulher que todos diziam ser muito arrogante e extremamente vaidosa. Nísia passou a ser assim julgada depois que o marido passou a beber desenfreadamente e desabafar sua sofrência nos bares do povoado – o homem não aceitava ter que dividir as tarefas do lar e a responsabilidade em educar as meninas. As gêmeas, Betty e Frida, eram mais velhas que Simone meia década. Ouviam-se boatos de que elas não se davam bem com a filha do padrasto. Muitas pessoas da região diziam
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Juízo

para ela a culpa, para ele a desculpa. ela, a puta,  que sabia o que fazia,  não tem explicação  nada de comoção...  quem não a culparia?  ele, o coitado,  não sabia o que fazia, tem explicação veja sua situação... quem não se comoveria? para ela a condenação, para ele o perdão.  Lizandra Souza.

Visão dupla

IMAGEM: 'Unknown Pleasures to Infinity' collage by Mariano Peccinetti aka Trasvorder. Devagar e discreta, ela vem chegando, Com seu sorriso impetuoso, vem trazendo Minha ruína. Nefasta, não me dá escapatória, Ela já sabe que é senhora absoluta da vitória. Infausta e aleivosa, ela sussurra, quase que latente: “Está chegando os seus tempos estranhos de poeira”. Involuntariamente, meu corpo estremece... ardente. De corpo ausente, cesso ao ver sua face zombeteira. Sereno, consentindo a ela, eu dou um último grito. Ele sai calado, cheio da dolência que me afronta. Eu sou mais uma presa sua, esfinge que amedronta Suas presas privadas de existência. Outrora, eu, aflito, Perdia-me dentro do paradoxo do meu próprio tempo, Que passou a ser frio e silencioso. Agora, eu, entorpecido Entrego-me aos seus longos braços, que me deixam seduzido. O que será do resto de minhas partículas perdidas no tempo? 5 minutos antes ou nos teus braços eu me e

A memória do tempo...

Imagem: The walking lesson -  Jacek Yerka Escuro. O teu silêncio cai Com o sol. A luz não nasce E fica tudo frio, Meus olhos cheios de dor E os teus de vazio. Desordem. Aquela velha lembrança do tempo, Que esconde o seu nome em mim, Numa falsa sensação de que a dor Vai se apagar junto com as cinzas, No dia de chuva, no dia de chuva. Dor que não adormece. A memória do tempo permanece (Com todas as suas prisões). Tempo amargo a gente não esquece Até se esgotar o tempo da memória. A memória do tempo caleja O tempo da memória, O tempo da dor.  Lizandra Souza.

Gaiola

Ilustração: Eldes " Querer-se livre é também querer livres os outros ." - Simone de Beauvoir. Triste passarinho Escravizaram sua canção. Antes no céu habitava E agora, só voa na imaginação. Triste passarinho Mal saiu do delicado ninho De repente sentiu a privação E a dor! A dor de pedras, Pedras malvadas, pedras medíocres Atiradas em seu coração. Triste passarinho Com um cruel disparo Tiraram sua liberdade. Voltar para seu ninho? Já não pode mais! Voar? Já não pode mais! Triste passarinho De asas cortadas De pernas machucadas, De coração ferido, Sonho ferido... Seu desejo de liberdade Sangra de suas feridas. Ele só enxerga a solidão. Lizandra Souza.

Uma folha solta...

The Starry Night - A noite estrelada -  (1889) -  Vincent van Gogh. Noite estrelada. Uma menina com olhos de lua Viu um ramo verde cochilar E uma folha cair, sorrateira, Da árvore prematura. Com pensamentos  insólitos Ela guardou a folha solta Dentro de um livro Em que as palavras Doces se abrigam E se encontram. De súbito, ela joga o livro Dentro de um rio. Seu desejo:  vê-lo desaguar. Menina do coração rebelde, Rebelde me deixou agora. E agora? A água revolta. A poesia transborda... Dentro e fora de mim. Lizandra Souza.

A sombra perdida da noite.

Imagem: Tommy Ingberg Pensamentos. Devaneios Escuros, Secretos, Escondidos, Em mim. No fim. Existência, Pintura da sombra Perdida da noite. Só há noite. Eu só quero a noite. Eu serei a sombra Perdida da noite. Sinto-me distante Do amanhã. Não haverá manhã. O caminho, O desvio. O vazio Dos dias T ardios, Sentidos Da brisa do vento. Ela traz o ruído Das folhas E das recordações Caídas no chão. Logo estarei  Nas mãos do chão. Lizandra Souza.

Mar gem

Pensamento Nas asas De um pássaro.                                 Vai e vem. Vem e vai. Nus Os pés Na areia. Vão e vêm.                                 Vêm e vão. Olhar De cores Transparentes.                    Andando Na margem                    Do mar O vento Traz     A onda  Cheia      De onda                Que  Perturba            O meu Caminhar Lizandra Souza.

Ainda não deram um título!

Vladimir Kush - Sunrise by the ocean Perdidos, nós nos encontramos Aqui. Introvertidos, nós procuramos Sair. E não há mais saída, já somos Alguma coisa que eles nos dizem Que (supostamente) somos Ou que deveríamos Ser. Ser? Deveríamos? Grito, ele sai da alma. Sorriso, de olhares profundos. Ambos, secretos. Não querem ser conhecidos. Perdidos?  Se não nos encontramos, Quem mais nos encontrará? Mistérios nos envolvem. O pensamento, preso, luta em busca De algo que para ele será a liberdade Que vem das liberdades... O inquestionável  é o que não vale a pena. Ele nos prende e nos limita A imitar... Alguém nos colocou Aqui. E pronto! Lá correm eles, Invariáveis  e  variáveis, Nos apontando a Ordem Que nos causa uma desordem Por causa da sua terceira face. Mas sabemos que há algo De mais intrínseco Que foge dos contratos, Armados! Estamos em caminhos De espinhos Disfarçados De flores Que ora choram s

DiVida

Lizandra Souza (2014). Na partida  Da avenida   Da vida    Divida     A dívida      Doída       Ouvida        Da ferida         Corrida          Na ida           Comprida            Da vida             Desconhecida               Na...  Saída. Lizandra Souza.